quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Somos como as sementes

Somos como as sementes


Estive recentemente (julho 2011) no Monastério do Trigueirinho em Figueira (MG), engajada em trabalhar com as sementes e os jardins de F2 (área de Figueira).

Levei um par de livros para ler durante esta jornada e, me marcou a apresentação do Dr. Alberto Gonzalez do livro Brotos**, não só pela abordagem que ele fez, mas pela coincidência do momento e local onde me encontrava.Estávamos em uma manhã, seis mulheres classificando uma safra de sementes crioulas (nativas), de uma leguminosa conhecida como ‘feijão amendoim’ (porque parece mesmo) entre sementes para armazenar (na câmara frigorífica para futuro plantio), sementes para consumo e sementes para descarte (muito danificadas).
Uma boa parte das sementes estava 'carunchada' e uma pessoa me perguntou: de onde surgem estes carunchos? Respondi: o cerne do caruncho (ou fungo) está todo o tempo dentro da semente. Basta que hajam condições para que eles se desenvolvam e ganhem força (nutrição e multiplicação) e assim destruam a semente e toda a sua capacidade também original de germinar e propagar a espécie.
No início tudo pode estar em equilíbrio, ainda que este início possa ser de pequena, média ou longa duração. Mas são as condições oferecidas (existentes) que irão determinar para que polaridade o futuro seguirá. Algumas vezes as condições são muito favoráveis à perpetuação da espécie, outras vezes nem tanto ou quase zero.
As sementes são exatamente como nós humanos, dentro de nós já temos tudo: a paz, o amor, a misericórdia, a alegria, a fé, a compaixão, a empatia, o perdão, a harmonia, o silêncio, a oração. Basta que surja uma oportunidade e muitos de nós prontamente respondemos com este manancial de sentimentos e ações do bem. Mas também temos dentro de nós o cerne do medo, do ciúmes, do egoísmo, do desamor, da falta de fé (ansiedade), dos 7 pecados capitais e assim por diante.
Qual a qualidade vibracional que alimentamos, nutrimos e permitimos que se desenvolva, cresça, se multiplique e finalmente nos contagie e nos faça transbordar? A qual aspecto doamos nosso tempo, atenção, ação?
Segundo o Dr. Alberto ‘as sementes e sua trajetória na direção da vida ou da morte são uma metáfora do dilema que vive a humanidade. Elas contém em si o arquétipo da vida. Por essa razão são citadas em forma simbólica na doutrina das mais diversas religiões’.
Concordo com ele que ‘as sementes são por­tadoras de vida, são a esperança de prosperidade, são ali­mento e entendimento ao mesmo tempo’. Assim são nossas crianças, nossos anseios, nossos projetos e nós mesmos...
‘Jesus nos trouxe muitas imagens do mundo espiritual através das sementes, como quando compara o poder do pensamento humano à minúscula semente de carvalho, que, sendo do tamanho de uma mostarda, pode se trans­formar naquela gigantesca árvore; ou quando conta a parábo­la do plantio e da colheita, estabelecendo a relação entre causa e efeito: se plantarmos hoje a boa semente, ama­nhã colheremos saúde, amor, abundância e paz’.
E, uma semente que não recebe água, solo, calor e luz (nas dosagens adequadas de cada momento: estocagem ou germinação) perde seu poder germinativo, perde sua razão de ser.
Da mesma forma, um ser humano que não recebe (ou não se permite) estas mesmas formas de nutrição da existência, também perde seu poder de expansão espiritual, perde sua razão de ser e de existir na luz...
‘As sementes querem se multiplicar, se espalhar, gerar fartura e alegria na família humana. Têm uma ânsia contida de germinar após o beijo da água, trazer o verde e anunciar bonança e prosperidade para cidades, aldeias e ecovilas. As sementes serão novamente moeda de troca, subvertendo os atuais meios de produção, onde, como nós, vivem escravizadas.
Trigo, quinoa, amaranto, alpiste, lentilha, gergelim, fei­jão, milho, centeio, cevada, amendoim, mostarda, trevo, alfafa, arroz, grão-de-bico, painço, colza - levantai-vos! Venham em nosso socorro! Estamos cansados e doentes, e vocês carregam dentro de si a origem da vida, a essên­cia da cura! Com seu poder silencioso, guardiãs de uma nova era, permaneceram caladas e agora podem ressur­gir, prontas a determinar uma nova ordem colaborativa e um novo consumo consciente’.
Da mesma forma somos Marias, Joãos, Maras, Cleuzas, Carlos, Anas, Paulos e Aparecidas, que nestes 5 dias dentro do Monastério, em oração e silêncio, para pedir e receber, para valorizar e respeitar, percebi como podemos tudo isso e muito mais! Quanta vitalização e criatividade rapidamente nos proporciona uma alimentação em harmonia com o reino vegetal, a gratidão para com a natureza e todos os seus elementais. Tudo isso me gerou, me germinou, me iluminou!

As sementes são nutridoras, reprodutivas, mul­tiplicadoras, amorosas, mantenedoras e curadoras. São delicadas, frágeis e dependentes de nossos cuidados, respeito, atenção. Mas ao mesmo tempo têm a força e o poder da regeneração, da multiplicação. O poder de transformar-se em brotos, seus brotos transformarem-se em verdes hastes, em frutos e alimentos para toda a humanidade.
Haja força e poder: sustentar toda a vida, no e do planeta terra. Mas elas dependem da consciência e da valorização do ser humano, o que a elas não falta...
As sementes estão para a terra assim como para as mãos do homem. Podemos ter nas mãos um pu­nhado de sementes e fazê-las tornar-se um jardim, um pomar, uma horta, um trigal dourado.

Assim somos nós humanos, tão frágeis e vulneráveis, tão medrosos de sairmos da caverna, das zonas de conforto, de germinar, brotar e crescer. Mas ao mesmo tempo somos potencialmente amorosos e poderosos. Quando conseguimos brotar e gerar muitos frutos, perdemos o medo da ‘falta’, nossa fé torna-se incondicional na abundância.

Em Figueira, nossa união me fez e faz chorar, aquele choro que não conseguimos saber de onde vem as lágrimas, mas imagino de uma avalanche de emoções de sustentação do amor incondicional. Sentir coisas que palavras não explicam: kodoish kodoish kodoish adonai tsebayoth.
‘Cuidemos das sementes, elas são nosso patri­mônio cultural, histórico e alimentar. Elas são nossas. Tornemo-as orgânicas, ricas em nutrientes, adaptadas e aclimatadas naturalmente ao nosso ambiente.
Pratiquemos a cultura da vida. Esse direito nunca esteve tanto em nossas mãos. Mãos que escolhem as sementes, mãos que trocam e presenteiam as sementes, mãos que germinam as sementes, mãos que cuidam dos brotos e preparam deliciosos alimentos que nutrem e curam o corpo e o espírito’.
Da mesma forma, cuidemos de nossas vidas, elas são nossas e estão sempre prontas para carunchar, embolorar ou vibrar no amor, na evolução e na paz!
Pratiquemos o acordar de nossas sementes, a germinação, o florescer desta nova era!


'Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento'. Gênesis, 1,29. Considero este texto super metafórico, porque nós também somos sementes e deixamos sementes...

'Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente'. Deuteronômio, 30, 19.


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Um convite: Em Figueira 2 fica o Setor Sementes, um banco de armazenagem, conservação e multilicação de sementes nativas (crioulas) do Brasil e algumas doações internacionais. Este setor está super carente de voluntários para nele trabalharem por algumas horas, dias ou mesmo num ritmo.
Para quem já é inscrito em Figueira, basta agendar uma ida a F2 e comparecer. Para quem ainda não conhece este Monastério e tiver interesse, basta buscar maiores informações.

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